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22 janeiro 2013

O empresário, a política e o ataque


 

O presidente da Fiesp, Paulo Skaf, repete a sina dos industriais que ousaram se candidatar a cargo público e viraram alvo de denúncias

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ECONOMIA & NEGÓCIOS
|  N° Edição:  2056 |  08.Abr.09 - 10:00 |  Atualizado em 22.Jan.13 - 22:03
 - Istoé     Independente

"Já apareço nas pesquisas com 1% das intenções de voto, isso incomoda muita gente"Paulo Skaff, presidente da Fiesp
 No Brasil, toda vez que o nome de um grande empresário começa a despontar como potencial candidato às urnas, ele se torna objeto das mais variadas denúncias. O mais recente episódio do gênero envolve Paulo Skaf, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Cotado para disputar o governo paulista em 2010, Skaf teve seu nome citado nas investigações da Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal. Deflagrada há duas semanas, a operação realizou uma devassa em uma das maiores empreiteiras do País, a Camargo Corrêa. Além das suspeitas de lavagem de dinheiro e de remessa ilegal para o Exterior (R$ 20 milhões), também estão sendo investigados supostos desvios de recursos repassados à construtora para obras do governo federal e a legalidade de contribuições da empresa para campanhas políticas. De acordo com a Polícia Federal, Skaf teria atuado como intermediário entre a Camargo Corrêa e vários partidos políticos que receberam doações da empreiteira. Isso porque seu nome foi mencionado em escutas telefônicas feitas com autorização judicial no decorrer das investigações. Para Skaf, não há nada de imoral ou ilegal em suas ações. "Pedi a uma empresa grande (Camargo Corrêa) que fizesse uma doação dentro da lei a um senador do Pará, expresidente da Federação das Indústrias do Pará, que é o Flexa Ribeiro, e outra doação para um senador do Rio Grande do Norte, José Agripino Maia, líder de um grande partido no Senado, que é o DEM. Tudo dentro da lei e com recibos que inclusive já foram apresentados." Ressaltando que a Fiesp representa nada menos que 130 mil empresas, ele não faz nenhuma acusação, mas lembra que não é possível saber o que se passa dentro delas. "Imaginar que a gente tem controle é um absurdo imenso", diz. E, categórico, garante: "Vou continuar a fazer tudo dentro da lei."
Apesar de evitar falar em politização das investigações, é com certa estranheza que Skaf tem encarado a situação de ver o seu nome e o da Fiesp em um relatório policial. "Causa espécie imaginar que estão valorizando uma simples citação em dezenas de milhares de horas de gravação", diz o presidente da Fiesp. Ele nunca se filiou a nenhum partido, mas assume que, por conta de sua gestão na Fiesp e pela defesa de bandeiras como a extinção da CPMF, se tornou uma opção forte para a cadeira de governador de São Paulo e tem sido cortejado por partidos dos mais diversos matizes ideológicos. "Mesmo sem ser filiado a nenhum partido, já apareço nas pesquisas com 1% das intenções de voto", destaca. "Isso, sem dúvida, incomoda muita gente." Outro ponto que Skaf faz questão de esclarecer é que, se estivesse articulando apoios para a sua possível candidatura ao governo paulista em 2010, teria sugerido doações nesse Estado e não para o Nordeste. Quanto aos planos para o governo de São Paulo, ele é evasivo: "Tenho até o dia 30 de setembro para pensar em me filiar", diz.
Mesmo sem o pré-requisito fundamental para disputar uma candidatura nas urnas, Skaf repete a sina dos empresários que ousaram postular um cargo público. Foi assim com Antônio Ermírio de Moraes em 1986, quando disputou o governo de São Paulo contra Orestes Quércia e Paulo Maluf. Dono do grupo Votorantim e à época o maior empresário do País, Antônio Ermírio respondeu a acusações de explorar trabalho escravo por um de seus adversários, Paulo Maluf. O resultado foi que, mesmo com 1,1 milhão de votos e em segundo lugar na disputa, vencida por Orestes Quércia, o empresário nunca mais quis concorrer a cargos eletivos. Com a experiência e os problemas que enfrentou na época de campanha, escreveu até uma peça de teatro: Brasil Sociedade Anônima.
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Outro personagem do mundo empresarial que também já quis entrar para a política foi o dono do SBT, Sílvio Santos. Em 1989, ele foi candidato à Presidência da República ao lado de Fernando Collor, Luiz Inácio Lula da Silva e Leonel Brizola. Mal começou a deslanchar nas pesquisas, Sílvio recebeu nada menos que 18 pedidos de impugnação. Isso porque, filiado às pressas pelo PMB, na reta final da campanha, teve sua candidatura considerada ilegal no Tribunal Superior Eleitoral, pois seu partido não havia realizado convenções em todos os Estados brasileiros. Até o vice-presidente José Alencar, dono da Coteminas, a maior indústria têxtil do Brasil, se viu às voltas com denúncias. Em 2005, sua empresa, que vendeu camisetas para o partido do presidente Lula durante a campanha de 2004, foi acusada de receber como pagamento recursos do caixa 2 do PT. O ônus da prova coube ao acusado. Alencar teve que demonstrar sua lisura no processo. "Nós vendemos as camisetas, cobramos, recebemos menos de 10% da dívida, emitimos as notas e pagamos os impostos, ainda demos recibo, para que eles (PT) lançassem na contabilidade deles. Se eles não fizeram isso que culpa temos nós?", disse o vice-presidente na época. Alencar, provavelmente, agora sabe bem como funciona o mundo da política. Talvez seu exemplo possa servir de referência para Skaf.